Iniciei no aeromodelismo na adolescência, parando logo em seguida em função dos estudos. Moro em São José doRio Preto. Incentivado por um amigo, que usa Enya, retornei ao aeromodelismo aos 55 anos (minhas máquinas e referências eram Fox e OS).

Passei a usar Enya, admirando a qualidade e desempenho da marca, muito bem representada pelo Martin (StuntHobby).

Em janeiro de 2020 fiz uma viagem ao Japão e logicamente incluí a visita à Enya no meu roteiro turístico.

Tive dificuldade pra validar o endereço que aparece no site. As fotos do Google e as descrições da empresas não mostravam nenhum prédio com o nome Enya!!! Depois de alguns dias quebrando a cabeça (pra não correr o risco de não encontrar o local exato), meu filho, que me acompanhava, encontrou o nome original da empresa no site em inglês!!!

Tentei agendar a visita a partir do Brasil, mas o Sr. Enya não me respondeu. Tudo fez sentido mais tarde...

A partir de Tokyo rumei para o endereço, que fica aproximadamente a 1 hora de trem. Desci na estação mais próxima e caminhei por uns 10 minutos até o prédio. Cheguei no paraíso, pensei eufórico.

Nenhuma inscrição na fachada do prédio, conforme já havia verificado no Google.

Toquei a campainha. Eu estava só, meu filho que é fluente em inglês não me acompanhava, minha esperança era alguém entender o meu inglês básico.

Um japonês abriu a porta. Apresentei-me, disse o que eu estava fazendo ali, perguntando se eu poderia visitar a empresa.

Visivelmente constrangido, o japonês me convidou pra entrar.

O inglês dele era tão ruim quanto o meu!

Compreendi porque o Sr Enya não respondia meus e-mails. Penso que ele tentou me desanimar a ir, mas fã que é fã nunca desiste!

O japonês me recebeu super bem, constrangido mas receptivo, foi logo dizendo que o “boss” não estaria na empresa naquele dia.

Pensei triste: puxa vida, não conhecerei o Sr Enya.

Entrei no barracão, térreo mais um andar. Lugar escuro, pouco iluminado, meio bagunçado.

Logo na entrada um moderno CNC com blocos de motores Enya ao lado. Deus, é aqui mesmo!!!! O japonês me convidou pra subir no escritório do “boss”.

Na subida da escada tive uma visão panorâmica do térreo. Era a fábrica dos motores Enya!!!!! Oficina antiga, tornos antigos, alguns cobertos, tudo parado, tudo vazio!!!! Cenário de oficinas da segunda guerra mundial.

Vejam as fotos abaixo

Chegando ao piso superior, espaço amplo, muitas caixas de papelão, tudo muito bagunçado.

Uma cumprida mesa se destacava no espaço, era a bancada de montagem dos motores. Igualzinha às nossas mesas quando estamos montando e desmontando nossos motores e nossos modelos, uma bagunça organizada.

Nessa altura me invadiu uma mistura de sentimentos, satisfação por estar na Enya e de frustração por perceber que a Enya talvez estivesse morrendo.

Neste amplo espaço, mais um japonês, ao qual fui apresentado.

Eles não sabiam o que fazer para me receber bem! Não estavam preparados para aquela situação.

Perguntei pelo Sr Enya, se ele realmente não estaria na empresa naquele dia (pensei: eu posso esperar por ele). Quando então o japonês que me recebeu disse: “I am Mr Enya.

Que alegria!!!! Não me contive e dei um abraço nele (a pandemia ainda não havia chegado), quebrando completamente a etiqueta e costumes japoneses.

Pelo que entendi o “boss” é irmão dele e deve ter outros negócios.

Chegando no escritório do “boss” mais bagunça e poeira.

Sobre a mesinha de centro rodeada por sofás muitas peças, papéis e uma montagem que parecia testes com um motor elétrico. Evidência clara que um dos problemas estava ou esteve em discussão naquele lugar: os motores elétricos.

Não havia nenhum motor montado, a pronta entrega! Pra não sair de mãos abanando comprei dois motores, um 29 e um 35 os únicos que disseram ser possível montar em uma hora.

Foi o tempo que eu e o Sr Enya ficamos conversando sobre o Brasil e o VCC. Implorei a ele que não parassem a produção. Ele respondeu que não parariam e reclamou da confiabilidade dos correios brasileiro, o que dificulta muito a remessa de produtos para cá.

Motores prontos, nos despedimos, convidei o Sr Enya para visitar o Brasil e ele se ofereceu pra me levar de carro até a estação. Sonho realizado! Porém nasceu alí um outro sonho ou um enorme desejo de não ver a produção Enya cessar, embora a dura e cruel realidade que presenciei indique o contrário. Vejam as fotos da minha visita à Enya e ao Sr Enya!

 Márcio Sanson

Fábrica da Enya  1968 - Família Enya